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173.
INCENSÓRIO
PORCELANA DECORADA COM ESMALTES DA
“FAMÍLIA ROSA” E OURO
FORNOS DE JINGDEZHEN, PROVÍNCIA DE JIANGXI
DINASTIA QING, PERÍODO DE YONGZHENG (1723-1735)
ALT. 25 CM; DIÂM. 25,2 CM;
INV. N.º 277
Incensório constituído por duas secções: o
corpo hexagonal e a tampa em forma de
pirâmide truncada, também com seis faces,
sobrepujada por velho tronco contorcionado
e nodoso de onde partem dois ramos viçosos
com folhas e dois pêssegos nas extremidades,
servindo de pega, separados por espessa
plataforma hexagonal, que se prolonga para o
exterior, debruada por dupla nervura, a qual
serve de suporte à tampa e acentua a forma
da peça. Esta foi executada em porcelana
pesada e espessa, revestida por vidrado
azulado com decoração perfurada (
linglong
) e
pintada com esmaltes da “família rosa”.
O corpo repousa sobre suporte pesado e
impositivo com seis pés, ornamentado com
chavetas em relevo, pintadas alternadamente
em cor-de-rosa forte, verde e azul, sobre
padrão de favos de mel cor-de-rosa,
preenchidos a verde com corolas brancas e
cabeças de
ruyi
no topo da aresta dos pés.
Apesar de fixo, o suporte parece tratar-se de
uma peça autónoma, dado estar separado da
base do corpo por sulco largo e recuado,
preenchido por cercadura verde com gregas
pretas. Cada face do corpo apresenta um
painel rectangular relevado com um dragão
vermelho-ferro modelado em relevo,
formando um medalhão redondo reservado
sobre padrão de
wan
(suásticas) brancas
semi-perfuradas, que contrastam com o
esverdeado do vidrado, enquadrado por
molduras: azul-claro, com motivos
geométricos formando estrelas de seis
pontas, verde-pálido e cor-de-rosa, ambos
com padrão de mosaico, alternadas, com
roseta nos cantos e meia-corola a meio
do painel. Cada face da tampa retoma a
decoração do corpo, mas com o dragão
reservado sobre suásticas brancas perfuradas.
Cada lado da pirâmide truncada, em forma de
trapézio, mostra o carácter
lu
(riqueza)
reservado sobre campo de sapecas
perfuradas, enquadrado por padrões com
motivos e cores similares aos das faces do
corpo e da tampa. A área plana do topo da
tampa, deixada branca, mostra, no centro, um
medalhão redondo com
wan
vermelho-ferro
perfurada sob a pega. A plataforma divisória
é decorada por pequenas reservas
quadrilobadas, azuis, contornadas a cor-de-
-rosa, contendo flor rosa sobre campo azul-
-turquesa, e denteada a azul sobre cor-de-
-rosa entre as duas nervuras do debrum.
Estes incensórios com corpo robusto, que
contrasta com a leveza da decoração
perfurada, são provavelmente inspirados nos
perfumadores
ding
da dinastia Zhou, em que
o primeiro teria sido feito pelo Imperador
Fou-hi para sacrificar aos espíritos do céu e
da terra 1 .
A propósito das caixas perfuradas e de vasos
para suspender, perfurados, destinados a
ervas aromáticas para perfumar a casa,
Hobson diz que alguns deles, com os topos
cobertos, também eram designados por
gaiolas para grilos e borboletas, ainda que a
sua construção desminta esta utilidade 2 .
Conhece-se um incensório quase idêntico a
este, mas menor e esmaltado com paleta
diferente, e com
wan
amarelas semiperfuradas
com dragões azuis no centro e o carácter
lu
vermelho-ferro reservado sobre padrão de
sapecas azuis perfuradas, que pertencia à
antiga Colecção Benjamin F. Edwards III 3 .
A antiga Colecção Henry Hirsh possuía uma
caixa dividida similarmente, mas de secção
quadrada suportada por quatro pés com
máscara e garra de leão, decorada em cada
face com máscara de ogre em relevo, e
pintada com esmaltes da “família verde”,
sendo a parte superior perfurada 4 .
Outro incensório, também quadrangular,
decorado com bambus perfurados na parte
superior e pintado com esmaltes da “família
verde”, proveniente da Lord Kitchener
Collection 5 , é hoje propriedade da Percival
David Foundation, Londres.
Grandidier ilustra outro exemplar de secção
quadrada, com o corpo e a tampa perfurados
com motivos geométricos 6 . Esta forma
repetir-se-á ao longo dos tempos, como
confirma o incensório do século XIX que
integrava as colecções reais portuguesas e se
encontra actualmente na sala de jantar
privativa do Palácio de Belém, Lisboa,
residência oficial do Presidente da República
Portuguesa, com mera função decorativa 7 .
Um exemplar circular, com tampa em forma
de cúpula com padrão de dragões
K’uei
perfurados, encontra-se no Museu do Palácio
Nacional, Taipei 8 .
Publicado em:
Jorge Welsh, 2004, pp. 62-63, n.º 12
1 Grandidier, 1894, est. I, n.° 1.
2 Hobson, 1924, p. 117.
3 Jorge Welsh, 2004, p. 62, n.º 12.
4 Hobson,
ibidem
, est. LIII, fig. 3.
5 Pierson, 2001, p. 34, n.º 29; Lady David, 1958, Est. XIII,
n.º A812.
6 Grandidier,
ibidem.
7 Pinto de Matos, 2005, p. 584.
8 National Palace Museum, 1977, est. 8, n.º 12.
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PORCELANA DA DINASTIA QING (1644-1911)