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384.
ÁGUIAS (PAR)
PORCELANA DECORADA COM ESMALTES DA “FAMÍLIA
ROSA” E OURO
DINASTIA QING, PERÍODO DE QIANLONG (1736-1795),
C. 1736-1750
ALT. 58 CM
INV. N.º 586
Estas imponentes figuras de águia,
modeladas e esmaltadas naturalisticamente,
estão em pose de imagem-espelho, numa
postura de alerta com a cabeça avançada e
levemente voltada para um lado, as asas
fechadas e poisadas sobre um rochedo
perfurado. Cada águia foi finamente
esmaltada em tons de castanho, sendo o
pormenor das penas da cabeça, pescoço e
uma pequena parte do corpo executado com
grande cuidado, com um minucioso padrão
de linhas em V, para simular as penas.
O peito, as asas e a cauda são matizados com
linhas maiores ou menores consoante o tipo
de penas que querem imitar, com
pormenores a ouro nas asas. Os olhos, com
pupilas em castanho quase preto, apresentam
vestígios de ouro. Os bicos encurvados estão
ligeiramente abertos para sair o ar durante a
cozedura e são decorados com pontos
dourados aplicados de forma regular.
As patas e garras são esmaltadas de castanho
quase preto e pormenores a ouro, imitando o
escamado típico da raça. O rochedo da base
foi primeiro esmaltado em tons de azul,
sobre o qual escorrem umas finas camadas
de púrpura e branco. A base é aberta para os
corpos ocos das águias.
Os chineses designam as águias e os falcões
pelo termo
ying
, homófono de “heróico”, e
consideram-nos emblema de força, audácia,
ousadia e visão penetrante 1 . Uma águia
sobre uma rocha no mar simboliza o herói
(
ying
) que combate uma batalha solitária 2 .
Aves de porcelana similares a estas eram
feitas no Ocidente, a maioria das quais em
Meissen, para satisfazer o extravagante
projecto de Augusto,
o Forte
, de criar animais
e aves de porcelana de tamanho natural para
expor no Palácio Japonês, em Dresden. Estas
aves incluem as famosas águias de c. 1732,
baseadas em protótipos japoneses de final do
século XVII e início do século XVIII 3 .
Nos inícios de 1730, as figuras de águias
modeladas em Meissen eram uma realidade,
como provado por uma águia batendo as
asas, modelada por Johann Joachim Kaendler,
em 1731 4 , e uma outra, mais próxima dos
originais japoneses, modelada por Johann
Gottlieb Kirchner, em 1733 5 .
Exemplares imponentes como os que
compõem o par em apreço, feitos na China,
destinavam-se provavelmente à exportação
para a Europa, para competir com os modelos
alemães.
No Grimsthorpe and Drummond Castle Trust
existe um par de águias japonesas com
dimensões similares (56 e 55 cm), modeladas
em postura idêntica e decoradas em tons de
castanho, como o presente par 6 .
Os modelos japoneses de grandes dimensões
também eram muito apreciados na Europa,
como demonstrado pela gravura de Eosander
von Göthe, de cerca de 1705, na Sala das
Porcelanas do Castelo de Charlottenburg, em
Berlim, mostrando um par de águias no topo
da parte central da lareira 7 ou as referências
no catálogo da venda Gaignat, em 14 de
Fevereiro de 1769, n.º 120, descrevendo
Deux
Beaux Aigles de grandeur naturelle
,
acompanhadas, na margem esquerda, por um
esboço de uma águia similar aos modelos
japoneses, da autoria de Gabriel Saint-Aubin 8 .
Na Colecção Rothschild, Waddesdon Manor,
existe um par de águias chinesas modeladas
similarmente ao presente par, mas pintado
com pescoços brancos 9 .
O Peabody Essex Museum, Salem,
Massachusetts, possui uma águia da mesma
época, também com um tamanho
impressionante (alt. 53 cm), mas com a pata
direita levantada e plumagem em esmaltes
coloridos, proveniente da Colecção Copeland 10 .
Proveniência:
Colecção Gilberto Daccache, Brasil
Colecção Robert e Melanie Gill, EUA
Publicado em:
Leite, 1986, n° 42, pp. 94-95
The Chinese Porcelain Company, 2000, p. 171
1 Williams, 1993, p. 175.
2 Eberhard, 1986, p. 89.
3 Sargent, 1991, p. 146, n.º 67.
4 Wittwer, 2001, pp. 30-31, fig. 23; Loesch, Pietsch e
Reichel, 1998, p. 202.
5 Ayers, Impey e Mallet, 1990, p. 198, est. 191.
6 Idem,
ibidem
, p. 185-187, est. 172.
7 Idem,
ibidem
, p. 61.
8 Idem
, ibidem
, p. 187; Sargent,
ibidem
, p. 170.
9 Charleston e Ayers, 1971, n.º 99.
10 Sargent,
ibidem
, pp. 146-147, n.º 67.
342 .
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