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514.
REFRESCADORES (DOIS) E
PRATO
PORCELANA DECORADA COM ESMALTES DA “FAMÍLIA
ROSA”
FORNOS DE JINGDEZHEN, PROVÍNCIA DE JIANGXI
DINASTIA QING, PERÍODO DE QIANLONG (1736-1795),
C. 1745
REFRESCADORES: ALT. 18,5 CM; DIÂM. BORDO 19,9 CM
PRATO: ALT. 6 CM; DIÂM. BORDO 46,5 CM; DIÂM. PÉ 27 CM
INV. N.
OS
406/1 E 406/2
Refrescadores cilíndricos com anel relevado
na borda, bordo direito, duas asas em forma
de concha, base convexa com concavidade no
centro, e prato com caldeira arredondada e
aba larga, plana e oblíqua, de porcelana muito
branca e pesada revestida de vidrado quase
incolor, excepto na base dos refrescadores e
extremidade do pé do prato. O bordo das
peças é revestido de vidrado castanho.
A decoração é pintada com esmaltes da
“família rosa” em tons pouco usuais:
vermelho-ferro opaco e vivo, azul, verde, cor-
-de-rosa, branco, beringela, amarelo e negro,
com predominância do vermelho-ferro e do
azul. A parede exterior do refrescador e a aba
do prato apresentam quatro composições
com cartela central de estilo europeu, duas
com águia sob uma pequena coroa de pétalas
de girassol, ladeadas por flores, incluindo
peónias, malmequeres, botões de flores e
bagas, e as outras duas com uma carpa
nadando sobre plantas aquáticas, entre frutos
chineses e bagas. O prato mostra um grande
ramo de peónias no interior, e três hastes
floridas em vermelho-ferro no exterior.
O interior do refrescador tem, no fundo, um
crisântemo e, no bordo, uma cercadura de
entrecruzados, ambos em vermelho-ferro.
Cercadura de losangos e motivos ovalados
rodeia o bordo do prato e decora o anel dos
refrescadores sob friso denteado. Uma
cercadura de motivos triangulares circunda a
base do refrescador.
O desenho revela uma inspiração europeia,
mas tem-se especulado acerca do significado
da águia e do peixe, que têm sido
relacionados, seguindo uma tradição do
século XIX, com Madame de Pompadour
(1721-1764) e a sua ligação a Luís XV, rei de
França (r. 1715-1774), dado o seu nome de
solteira ser Jeanne Antoinette Poisson e a
águia ser o símbolo do monarca francês.
Apesar de se conhecer o gosto de Madame
de Pompadour pelos objectos e porcelanas
chinesas, nem o inventário feito após a sua
morte, em Abril de 1764, nem o catálogo de
venda dos bens de seu irmão e herdeiro,
Abel-François Poisson Vandières, marquês de
Marigny e de Ménars, mencionaram um tal
serviço encomendado na China 1 .
Outra teoria sugere que estes serviços de
jantar se pudessem encontrar entre os
presentes oferecidos a Jeanne-Antoinette por
ocasião do seu casamento com Charles-
-Guillaume Lenormant d’Étoilles (1717-1799),
em Março de 1741, supostamente oferecidos
pelo tio do noivo, Charles François
Le Normant de Tournehem (1648-1751),
ex-embaixador na Suécia, um dos altos
financeiros responsável pela cobrança dos
impostos reais indirectos e director da
Companhia das Índias francesa. Tournehem
seria amante da mãe de Jeanne-Antoinette e
poderia até ser seu pai natural, tendo
assumido um papel protector da família
Poisson. Diz-se que reivindicava que embora
Jeanne-Antoinette fosse casada com o seu
sobrinho, seria igualmente “un morceau du
Roi” (pedaço digno de um rei) 2 . De facto
Jeanne-Antoinette era conhecida na sua
família por “Reinette” (rainhazinha) porque
mesmo em criança já nutria uma grande
paixão pelo rei Luís XV.
Além de um magnificente serviço de jantar,
devido à raridade e variedade de peças
conhecidas com este desenho – potes,
vasos 3 , jarros, travessas 4 , terrinas, saladeiras
quadradas, galheteiros, refrescadores,
penicos,
bourdaloues
5 – não há dúvida de
que se trata de uma importante encomenda
privada, provavelmente francesa. Esta
hipótese é reforçada pelo facto de muitas
peças terem sido guarnecidas com
montagens francesas de bronze dourado e
um número significativo de peças dos
serviços conhecidos por “Madame de
Pompadour” se encontrarem nos acervos de
museus em França, país onde o padrão foi
copiado pela fábrica Samson, estabelecida
por Edmé Samson em 1845, em Paris.
Existem peças deste serviço dispersas por
vários museus franceses: Musée Guimet (inv.
G473), Musée des Arts décoratifs, Bordéus
(inv. 3885), Musée de Saint-Omer
(proveniente do legado Dupuis) e Musée
Grobet Labadit, de Marselha (inv. GL 3310) 6 , e
ainda na antiga Colecção Mottahedeh 7 .
Beurdeley ilustra um vaso
pot-pourri
da
Colecção Louis de Chollet, Paris 8 , e Leite
publica um prato da colecção de Maria
Helena e Luiz Fernando Kehl 9 .
1 Mézin, 2002, p. 65, n.º 44.
2 Jones, 2002, p. 21. (Jones, Colin,
Madame de
Pompadour: Images of a Mistress
, catálogo de
exposição, National Gallery, Londres, 2002.
3 Beurdeley, 1982 (4.ª edição), p. 198, cat. 190.
4 Mézin,
ibidem.
5 Howard, 1994, p. 229, n.º 271; Fuchs II, 2005, p. 158,
n.º 102.
6 Mézin,
ibidem.
7 Howard e Ayers, 1978, vol. II, p. 443, n.º 449.
8 Beurdeley,
ibidem
.
9 Leite, 1986, pp. 136-137, n.º 55.
244 .
PORCELANA DA CHINA ARMORIADA