57.
        
      
      
        
           GOMIL
        
      
      
        PORCELANA BRANCA DECORADA A AZUL SOB O VIDRADO
      
      
        FORNOS DE JINGDEZHEN, PROVÍNCIA DE JIANGXI
      
      
        DINASTIA MING, MARCA E PERÍODO DE ZHENGDE 
      
      
        (1506-1521), C. 1520
      
      
        ALT. 18,6 CM; DIÂM. PÉ 7 CM
      
      
        INV. N.º 99
      
      
        Gomil com bojo piriforme, gargalo alto,
      
      
        estreito e cintado, com bordo evertido e
      
      
        levantado, formando anel, sobre pé inclinado
      
      
        para o exterior. O bico, alongado, facetado e
      
      
        curvado na extremidade, foi aplicado a meio
      
      
        do corpo e está ligado ao gargalo por ponte
      
      
        em S; no flanco oposto, à mesma altura,
      
      
        arranca a asa, grande e encurvada, com
      
      
        pequeno anel no topo, usado para fixar a
      
      
        corrente ou cordão que prendia a tampa. 
      
      
        Foi executado em porcelana branca e fina,
      
      
        parcialmente translúcida, em duas partes,
      
      
        ligadas a meio do bojo com cuidado,
      
      
        revestida de vidrado azulado, excepto na
      
      
        extremidade do pé, onde a sua paragem é
      
      
        marcada por duas linhas alaranjadas. 
      
      
        É decorado a azul-cobalto sob o vidrado com
      
      
        um medalhão circular, ostentando a esfera
      
      
        armilar com faixa de caracteres ilegíveis,
      
      
        enquadrado por quatro ramos de flores de
      
      
        lótus, sobre cada face do corpo. O gargalo
      
      
        ostenta dois registos: o inferior com dois C
      
      
        entrelaçados com motivos vegetalistas, um
      
      
        sobre cada face, e o superior com folhas de
      
      
        bananeira. A asa, enfatizada por filete azul, é
      
      
        decorada com motivos florais e o bico com
      
      
        chamas estilizadas e flores. O pé é
      
      
        preenchido por uma grega entre dois filetes
      
      
        azuis. Na base, a marca, 
      
      
        
          Zhengde nian zao
        
      
      
        (Feito no período de Zhengde), caligrafada
      
      
        em quatro caracteres, dispostos em duas
      
      
        colunas de dois caracteres, dentro de um
      
      
        duplo quadrado, a azul sob o vidrado.
      
      
        A esfera armilar é a divisa de D. Manuel I, 
      
      
        a qual lhe foi concedida por seu cunhado 
      
      
        e predecessor, o Rei D. João II, quando era
      
      
        ainda Duque de Beja. À esfera armilar se
      
      
        ligaram logo as circunstâncias providenciais
      
      
        da sua subida ao trono, como escreve Garcia
      
      
        de Resende na 
      
      
        
          Crónica de D. João II
        
      
      
        : (...) 
      
      
        
          cousa
        
      
      
        
          que pareceo de misterio, e profecia, porque lhe
        
      
      
        
          deu a Esperança de sua Real socessão, como
        
      
      
        
          ao diante se seguio, auendo então muytas
        
      
      
        
          pessoas viuas, que antes delle erão herdeyros,
        
      
      
        
          os quaes todos depois falecerão, para elle vir
        
      
      
        
          herdar
        
      
      
        . 1 Além da associação entre Esfera e
      
      
        Espera, os dois significados possíveis da
      
      
        expressão 
      
      
        
          Spera Mundi
        
      
      
         2 e do significado
      
      
        profético atribuído à decisão de D. João II,
      
      
        patentes no informe de Resende, Damião de
      
      
        Góis, autor da 
      
      
        
          Chronica d’El-Rei D. Manuel
        
      
      
        ,
      
      
        identifica a forma como a esfera é
      
      
        representada com a esfera dos matemáticos,
      
      
        ou seja, dos astrónomos:
      
      
        
           Neste tempo dom
        
      
      
        
          Emanuel nam era casado, nem tinha tomado
        
      
      
        
          divisa segundo o costume dos Principes, pelo
        
      
      
        
          que el-Rei dom João lhe deu por divisa a figura
        
      
      
        
          da Sphera, perque hos Mathematicos
        
      
      
        
          representão ha forma de toda a machina do
        
      
      
        
          ceo e terra como todolos outros elementos,
        
      
      
        
          cousa despantar, e que parece que não
        
      
      
        
          careceo de misterio prophetico, porque assi
        
      
      
        
          quomo estava ordenado per Deos, que elle
        
      
      
        
          houvesse de ser herdeiro del Rei dom João,
        
      
      
        
          assi quis que ho mesmo Rei a quem havia de
        
      
      
        
          succeder, lhe desse huma tal divisa, per cuja
        
      
      
        
          figura se demostrasse ha entrega, e cessam,
        
      
      
        
          que lhe já fazia, pera quomo seu herdeiro
        
      
      
        
          proseguir depois de sua morte, na verdadeira
        
      
      
        
          aução, que tinha na conquista e dominio da
        
      
      
        Fig. 20. D. Manuel I, gravura do Livro 5.º das
      
      
        
           Ordenações
        
      
      
        
          Manuelinas
        
      
      
         (1514)
      
      
        © ANTT/José António Silva
      
      
        
          144 .
        
      
      
         PORCELANAS DAS DINASTIAS YUAN (1279-1368) E MING (1368-1644)