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413.
POTE
PORCELANA DECORADA COM ESMALTES DA “FAMÍLIA
VERDE” E OURO
DINASTIA QING, PERÍODO DE KANGXI (1662-1722),
C. 1700-1720
ARMAS: SÃO PAIO (DOS CONDES DE SÃO PAIO), MELO
ALT. 109 CM; DIÂM. BOCA 28,5 CM; DIÂM. PÉ 32,5 CM
INV. N.º 93
Pote em forma de balaústre, alto, com
gargalo largo e bordo evertido e levantado,
sobre anel basal, executado em porcelana
pesada e espessa.
A decoração pintada com esmaltes da
“família verde” e ouro, com predominância
do verde, apresenta, sobre duas faces do
bojo, o brasão de armas dos Sampaio e Melo,
representado similarmente ao das peças
anteriores, que sobressai sobre um campo
juncado com hastes frondosas que desenham
uma espiral, cujo centro é ocupado por flor,
contido, em baixo e em cima, por dois frisos
de folhas de fundo verde com enrolamento
vegetalista e um crisântemo, nas folhas mais
pequenas, e peónias com botão, nas maiores.
Uma cercadura de pétalas simples e outra de
motivos geométricos com corola inscrita e
cinco reservas brancas quadrilobadas com
flor rodeia a base e o ombro, respectivamente.
No gargalo, entre dois frisos de cabeças de
ruyi
, desenvolve-se um enrolamento com seis
crisântemos. Uma cercadura de fundo
vermelho-ferro com enrolamento de meias
corolas de crisântemo, reservadas a branco e
realçadas a ouro, circunda o bordo.
O tipo de decoração com hastes frondosas a
terminar em flor central é semelhante ao
tratamento observado nos motivos vegetalistas
que integram algumas peças bordadas sino-
portuguesas civis, como colchas e panos de
porta e de armar, designadamente como se
reconhece no pano do Museu do Caramulo
(inv. 270) e no do Museu de Artes Decorativas
Portuguesas, Fundação Ricardo do Espírito
Santo Silva, Lisboa (inv. 423), ainda que as
hastes do pote sejam representadas como
elemento autonomizado e as dos têxteis
como enrolamento contínuo, que preenche o
campo do pano (Fig. 83).
É importante realçar que este pote apresenta
uma ornamentação muito semelhante a
outros dois imponentes jarrões de
encomenda portuguesa ostentando o brasão
dos Almeida 1 , cujo paquife é tratado de
forma muito similar aos presentes no conjunto
de peças atribuídas aos Sampaio e Melo de
Baçaim, Índia (cat. 412). É curioso que as
armas dos referidos jarrões, propriedade da
Fundação Oriente, Lisboa (inv. n.
os
FO383 e
FO384), são atribuídas a D. Miguel de
Almeida 2 , outro fidalgo com uma carreira
ligada ao Estado da Índia, onde foi
governador em 1690-1691, e que veio a
falecer em Goa, em Dezembro desse ano.
Na forma e nas dimensões, o pote em apreço
é similar aos quatro exemplares com decoração
inspirada nos desenhos de Jean Bérain (1640-
-1711), pintados com esmaltes policromos,
que decoram a Sala dos Embaixadores do
Palácio do Quirinal, Roma 3 , e ao pote
decorado a azul sob o vidrado do Museu de
Artes Decorativas Portuguesas, Fundação
Ricardo do Espírito Santo Silva, Lisboa 4 . Estes
potes, normalmente feitos aos pares, eram
adquiridos pelas classes abastadas, funcionando
como um bom meio de afirmação de
status
.
As dimensões deste tipo de pote exigiam
uma grande mestria, não só no momento da
sua execução, mas também no controlo da
atmosfera do forno para proporcionar
cozeduras perfeitas, de forma a produzir
vasos sem deformações.
1 Pinto de Matos e
al.
, 1998, pp. 202-203, n.º 36.
2 Castro, 1993, p. 69.
3 Seta, 2002, p. 54 e 63, est. 55.
4 Antunes, 1999, pp. 52-53.
36 .
PORCELANA DA CHINA ARMORIADA
Fig. 83 Guarda-porta (pormenor)
Trabalho chinês de encomenda europeia, séculos
XVII-XVIII. Veludo bordado a seda e fio laminado
de papel dourado. Alt. 283 cm; larg. 209 cm
© Museu de Artes Decorativas Portuguesas –
Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva,
inv. n.º 423, Lisboa