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ARMAS DO VISCONDE DE BALSEMÃO
As peças que se seguem (cat. 466-467) apresentam em escudo de formato em ponta
com chefe bicôncavo o seguinte brasão de armas: de azul, com cinco crescentes de prata.
Coronel de ouro, guarnecido de pedraria, com oito florões de acanto dos quais cinco
aparentes, apresentando-se os laterais de perfil. Timbre: um leão passante, de sua cor,
carregado de cinco crescentes do escudo na espádua 1 .
As peças pertencentes a Luís Pinto de Sousa Coutinho são datáveis de cerca de 1800
e deveriam apresentar, naturalmente, o brasão de armas do seu usuário, o que não corresponde
à realidade. Com efeito, a representação correcta das armas em apreço é a seguinte: de
prata, cinco crescentes de vermelho. Timbre: um leopardo de prata, armado e lampassado
de vermelho, com um crescente do escudo na espádua 2
.
Nas peças, o escudo corresponde ao brasão de armas descrito como sendo o dos
Pinto de Haia 3 , enquanto o timbre é o dos Pinto de Portugal, facto que levanta algumas
perplexidades. Como se explica que, cerca de 1800, o artista chinês altere tão
significativamente o metal do campo do escudo e a cor das peças que o carregam num
escudo que não deveria oferecer qualquer dificuldade de representação? Armas plenas sem
a dificuldade oferecida pelas partições, o número relativamente pequeno de peças, todas
iguais e sem dificuldade aparente de execução! Por outro lado, os elementos externos são os constantes
da carta de brasão concedida aos Pinto de Portugal.
As variações encontradas nos diferentes autores, como seja, leão em vez de leopardo, de sua cor
ou de prata, ou ainda com um ou cinco 4 crescentes do escudo na espádua não são relevantes. A mistura
do escudo dos Pinto de Haia com o timbre dos Pinto de Portugal é que parece ser inexplicável.
Interessa ainda referir que entre os muitos armoriais, dicionários e crónicas portugueses consultados,
designadamente o
Livro do Armeiro Mor
5 , o
Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas
6 , a
Beneditina
Lusitana
7 , o
Espelho da Nobreza
8 , o
Brasonário de Portugal
9 , a
Monarchia Lusitana
10 e a
Heráldica em
Portugal
11 , em nenhum deles encontrámos referência ao brasão de armas dos Pinto de Haia, que só
vimos descrito no
Armorial Général
12 e nas suas
Illustrations
13 , no
Dictionnaire de Renesse
14 e na
Heráldica de Apellidos Españoles
15 , muito embora neste dois últimos não se faça referência à nacionalidade
holandesa dos armigerados.
Luís Pinto de Sousa Coutinho nasceu em Leomil a 27 de Novembro de 1735, filho de Alexandre
Pinto de Sousa Coutinho e de sua mulher, D. Josefa Mariana Madalena Pereira Coutinho de Vilhena, e
morreu em Lisboa a 14 de Abril de 1804.
O título de 1.º visconde de Balsemão com honras de Grande do Reino foi concedido de juro e
herdade, dispensado duas vezes da Lei Mental, por D. João, príncipe regente, por decreto de 14 de
Agosto de 1801 16 .
Fidalgo cavaleiro da Casa Real, desempenhou, entre outros, os cargos de ministro e secretário
de Estado dos Negócios do Reino, da Guerra e dos Estrangeiros, sucessivamente, tenente-general do
Exército, em 1765, capitão-general e governador da capitania de Mato Grosso (Brasil) em 1769, conselheiro
de Estado, comissionado para receber a infanta de Espanha, D. Carlota Joaquina, mulher do príncipe D.
João, e ministro plenipotenciário na corte de Londres (1774), para ajustar o tratado de paz entre a França,
Espanha e Portugal 17 . Foi cavaleiro do Tosão de Ouro e Grã-Cruz da Ordem de Avis, tendo escrito várias
obras.
Casou, em 1772, com D. Catarina Micaela de Sousa César de Lancastre, filha de Francisco Filipe
de Sousa da Silva Alcoforado e de sua mulher, D. Rosa Maria Viterbo de Lancastre, filha dos 3.
os
viscondes
de Asseca, com geração.
A viscondessa, no regresso de Londres, onde esteve com seu marido e
tornou a legação de Portugal
no centro mais notável de reunião de quantos cultivavam as artes, as letras e as ciências, contraiu relações
de amizade com a marquesa de Alorna, com a qual manteve um cenáculo literário de grande nomeada
18 .
140 .
PORCELANA DA CHINA ARMORIADA
1 Leitura heráldica por MLCB.
2 Norton, 2004, vol. II, p. 268.
3 Rietstap, 1972, vol. II, p. 442 e
Rolland, 1991, vol. V, pl. LX.
4 Souza, 1962, cortinas 46 e 47.
5 Cró, 2000, p. LIV, f. 72.
6 Godinho, 1987, p. 27, f. XVIII.
7 São Tomás, 1974, vol. II, p. 488.
8 Craesbeck, s/d, fl. 404.
9 Mattos, 1943, p. 77, n.º 1318.
10 Brandão, 1973, parte III, fl. 60v.
11 Norton,
ibidem.
12 Rietstap,
ibidem.
13 Rolland,
ibidem.
14 Helmont, 1992, p. 858.
15 Schnieper Campos e Rosado Martín,
2000, p. 205.
16 Zúquete, 1960, vol. II, pp. 367-368.
17 Solla, 1928 (reedição de 1992), vol. I,
pp. 30-32.
18 Leitão-Bandeira, 2006, p. 182.
Fig. 89. Pormenor de cat. 466.